Introdução
Quando pensamos em inovação nas empresas, é fácil correlacionar o termo ao estabelecimento de tecnologias de ponta, como uma infraestrutura robusta em cloud, softwares que automatizam as mais variadas rotinas ou até mesmo equipes rodando metodologias ágeis onde cada membro ganha um termo cunhado do “Spotify Model”, entre outras ideias. A verdade é que todos os pontos acima citados fazem parte da segunda derivada da função, sendo úteis somente por meio de uma Cultura de Inovação bem pactuada, onde esses e outros recursos podem ser aproveitados pela organização.
Padrões sociais e culturais
Em nossa sociedade, alguns padrões sociais e culturais, de forma endógena (dentro de determinado organismo social), foram compartilhados para você. Exemplos de alguns padrões que provavelmente você replica: Você utiliza um garfo e uma faca para comer. Você dorme em uma estrutura de madeira acolchoada com espumas, uma cama. Você toma ao menos um banho por dia. Se você mora no Brasil, você também tem um recipiente ao lado do vaso sanitário para despejar o papel sujo. Alguma vez essa semana você já comeu arroz ou feijão. Enfim, boa parte de nós são normas de conduta transmitidos de forma comunitária e o custo (custo como um trade-off de mudança) de mudar estes costumes é maior do que o custo de permanecer com eles, afinal, porque eu usaria “hashis” para comer se para mim os garfos são mais eficientes?
Companhias como subconjuntos da sociedade, com comportamentos compartilhados e disseminados
Assim como as sociedades, as empresas possuem códigos de conduta, regras, comportamentos que são passados de forma comunitária, tudo que uma sociedade expandida teria, mas em menores níveis. Com relação aos comportamentos compartilhados, eles são a base para uma Cultura de Inovação sólida. Empresas contratam jovens talentos com a intenção de “oxigenar” a empresa, trazer novas ideias, mas a cultura definida através do regimento sociocultural da empresa é que vai determinar o perfil desses profissionais, que como uma esponja vão absorver grande parte da conduta vigente.
O estabelecimento de uma Cultura de Inovação passa pelo criação de valores genuínos de inovação de forma compartilhada, onde os elementos da estrutura favorecem a disseminação dos aspectos que são fundamentais para inovar. Não importa o esforço que determinada companhia faça em adquirir novas tecnologias, se líderes permitirem que cada um de seus colaboradores repliquem procedimentos antiquados, a empresa estará jogando contra seu próprio processo inovativo.
O que incentivar, a inovação ou a ausência dela?
Assim como os comportamentos, os incentivos previamente definidos também são importantes na análise da cultura de Inovação.
Uma coisa muito comum é, que além de fazer com que talentos absorvam modelos antigos, que isso seja premiado. Imagine uma empresa que preza por seus processos e que estes, por vezes, impactam negativamente na velocidade com que a companhia consegue inovar. As pessoas responsáveis por estes processos serão premiadas ao cumpri-los, não ao pensar se todos aqueles códigos de conduta fazem sentido para organização. A partir do prêmio, tal como o efeito do açúcar no cérebro humano (ou qualquer outro estimulante), as pessoas buscarão por aquilo de forma constante e incansável. A fórmula perfeita para uma empresa sempre estar atrás de seus concorrentes.
Sendo assim, como estimular de forma genuína o estabelecimento de uma Cultura de Inovação forte?
Cases de sucesso em incentivos contínuos à inovação
Abaixo, alguns cases que mostram o que algumas empresas (centenárias e startups) têm feito para estabelecer estímulos contínuos de inovação aos seus colaboradores. O objetivo dos cases não é fazer com que você replique “ipsis litteris” os modelos estabelecidos, mas expor algumas práticas interessantes que podem servir como benchmark.
3M: 15% do tempo dos seu 91 mil colaboradores é dedicado a projetos não relacionados ao escopo de seu trabalho, para pensar o futuro da companhia, em novos produtos e modelos de negócios. O post-it, um dos principais produtos da empresa, nasceu de uma ideia pouco provável e com o tempo se tornou um sucesso – Leia a história aqui.
Wildlife Studios: A Wildlife é uma empresa brasileira que entrou recentemente para o Clube dos Unicórnios. A empresa permite e estimula que seus colaboradores pensem nos novos jogos que serão comercializados, por meio de competições que acontecem com frequência. Os vencedores da competição viram pilotos.
Google: O Google propõe que 20% do tempo dos colaboradores esteja empregado em projetos de inovação. O filme “O Estagiário” retrata um pouco dessa dinâmica na companhia, onde até estagiários participam dos principais projetos relacionados ao futuro da empresa. Reza a lenda que o Orkut e o Gmail nasceram em projetos como estes.
Perceba que criar uma Cultura de Inovação passa por proporcionar aos colaboradores a condição de participar de projetos fora do BAU (business as usual), como também promover incentivos para materializar iniciativas de inovação e permitir que todos os colaboradores, do estagiário ao presidente, estejam imersos nesta dinâmica.
Conclusão e algumas dicas
Quer uma companhia inovadora de verdade? Listo abaixo aspectos importantes para alcançarmos este objetivo.
🎯 Crie códigos socioculturais fortemente amarrados à inovação: O caráter replicável dos elementos da cultura da empresa fará com que cada colaborador absorva e passe para frente, de forma exponencial, os comportamentos desejáveis.
🎯 Cultura antecede a Tecnologia: Sem uma cultura forte de inovação na empresa, toda tecnologia se tornará inútil ou menos útil do que poderia ser.
🎯 Nada de replicar outros modelos organizacionais: Cada organismo é único, assim como cada sociedade e empresa. Modelo Spotify funcionou no Spotify. Replique em sua empresa, “by the book”, e veja um possível fracasso – ou tenha a falsa sensação de que aquilo é Inovação.
🎯 Horizontalize as decisões: Empodere a linha de frente na tomada das principais empresas. Fomente o empreendedorismo e faça com que cada colaborador se sinta genuinamente dono da operação.
🎯 Construa e fomente incentivos: O que você premia? Seguir à risca processos antigos ou exercer pensamento crítico para pensar se aquilo faz sentido e o que poderia ser melhorado? O que é premiado, com palavras e atitudes da liderança, é replicado.
🎯 Diversidade genuína: A Inovação só é possível a partir do choque e do confrontamento de ideias. Mentes iguais levarão a resultados muito parecidos. Intensifique a diversidade na companhia em absolutamente todos os aspectos, gênero, raça, classe, formação e o que mais for possível.
Por fim, tecnologias emergentes, metodologias ágeis e todo movimento de modernização das empresas são aspectos louváveis – não tome minha provocação como uma demonização de qualquer destes recursos. O ponto é, todos os esforços se tornarão pouco efetivos se as equipes não forem capazes de inovar de forma constante e isso passa majoritariamente pelos códigos comportamentais da companhia.
Referências:
https://www.pointforward.com/innovation-as-a-social-phenomenon
https://exame.com/tecnologia/inventor-conta-historia-por-tras-do-lendario-post-it/
https://www.whow.com.br/global-trends/11-empresas-globais-cases-inovacao/
Sem comentários